sábado, 17 de agosto de 2013

CENOPOESIA: UMA FUSÃO DE LINGUAGENS OU UMA LINGUAGEM EM BUSCA DA ARTE DE SER COM O OUTRO?

 DIA 14 NO IL - AS 9 HORAS

CENOPOESIA: UMA FUSÃO DE LINGUAGENS OU UMA LINGUAGEM EM BUSCA DA ARTE DE SER COM O OUTRO?*
Por Ray Lima

A cenopoesia nasce da necessidade que a própria arte contemporânea tem em dialogar e interagir com inteligência e respeito com as mais diversas formas de linguagens, com o outro, o que consideramos uma carência também humana.Podemos reconhecer que isto não vem de agora, senão de há muito tempo, embora só mais recentemente tenhamos tido a percepção mais clara de que, assim como um ser humano, uma linguagem artística, mesmo querendo eximir-se, precisa da interação com outras para se fortalecer e sustentar-se. E nisto ela acaba por se reconhecer como singular em sua forma particular de ser, sem anular seu potencial dialógico nem sua relação de autonomia e interdependência com o outro. Tampouco pode deixar de se permitir constantes relações com tudo aquilo que é ou se torna universal na velocidade e complexidade comuns em nosso tempo. O poder de sustentabilidade de uma arte não estaria em sua capacidade de relacionar-se com o mundo sem desistir de sua singularidade? Para tanto seria preciso saber-se o tipo de relação a ser construída ou aceita e até aonde se pode ir. Por um lado porque as relações são a princípio perigosas, exigem cuidados, discernimento, capacidade de escolha. Por outro que, neste caso, não serve a idéia de relação como relação de troca, de mercado. Na relação de troca sempre há desigualdades, perdas. A relação que propomos aqui deve se constituir como relação de alta qualidade, onde ninguém perde; ou onde o grau de perda é insignificante em relação aos ganhos dos que se relacionam - porque se unem por uma causa, um desejo de aprendizagem e enriquecimento mútuo muito forte e não por impulso de um desejo de exploração do outro ou por um sentimento de usura.Daí a cenopoesia se assentar bem aos tempos atuais na medida em que se contrapõe às relações de consumo, dispondo como natureza peculiar essa busca de integralidade, de diálogo, ao mesmo tempo em que constrói e robustece sua própria singularidade, fortalecendo sua identidade enquanto linguagem por natureza híbrida e sêivica. A poesia e ao que a ela vai se incorporando como teatralidade, musicalidade, cenicidade, plasticidade, reflexibilidade, pedagogicidade, educabilidade, espetacularidade, etc. dão-lhe um constitutivo distinto, algo nominavelmente novo e perceptível pelo leitor/autor/espectador participante. Portanto, a cenopoesia quer ser esse lugar onde as linguagens podem se encontrar para transler-se, transmetamoforizar-se e transnavegar em outros territórios e universos da leitura e releitura; dos significados e das possíveis resignificações do mundo sem sair de seus eixos de navegação. A mescla é o que a universaliza. E resguardar aspectos fundamentais de cada linguagem que a ela se soma, se une é o que a torna uma linguagem de força e graça, muito particular e especialmente atual. Cada linguagem que a ela se agrega ou se associa é a gota de sangue injetada pelo doador ao anêmico. O que era há pouco sangue alheio, de outro corpo, corrente e circulante em outras veias, passa a alimentar outro corpo a partir do bombeamento de um novo coração, dando seqüência a outra vida, a outra alma, sem a perda da alma nem da vitalidade do doador. A cenopoesia mais do que fala, expressa. E o faz explicitamente, partindo de um discurso que por meio de uma linguagem impura, esteticamente modificada, apela eloqüentemente para as interfaces solidárias e amorosas das linguagens. Ela se exercita indicando o fim da solidão ou do egocentrismo das linguagens e da estagnação das correntes estéticas. E ao negar, ou melhor, ao propor o fim desses estamentos separatistas sugere como caminho a construção de um espaço de comunhão e encontro das artes, onde os diferentes estão no mesmo lugar, desfrutando e usufruindo a riqueza coletiva sem abdicar de suas cores e brilhos inatos; das motivações e propriedades que lhes dão forma e sentido.Se pudéssemos considerar a arte como lugar de encontro do ser com suas múltiplas possibilidades criativo-inventivas; de ensinar e aprender, refletir e agir com e sobre o mundo, a cenopoesia seria o lugar de encontro das linguagens com todas as suas capacidades dialógicas, transitivas e infinitamente expressivas, transformadoras e autotransformadoras: de criadores e criaturas; dos praticantes e do mundo onde nascem, vivem, morrem ou se perpetuam os homens pela força de suas artes.Aprendendo juntos vamos abrindo leques de conhecimentos e práticas mais do que necessárias para irmos rompendo as fronteiras de nossas limitações. Esses capões de conhecimentos e saberes isolados que muitos ainda pregam ou tentam defender não condizem com as potencialidades e possibilidades de uma floresta inteira com seus biomas e ricas biodiversidades. Por isso, a cenopoesia é um esforço no sentido de reunir o máximo de linguagens numa só expressão. Daí podermos por meio dela falar da vida, da cidadania, das coisas do mundo de forma leve e profundamente reflexiva, questionadora, porém amorosa e ternamente. Não sei se é popular, mas temos convicção de que é comunicativa, interativa e deveras humana.Posfácil do Livro Onde Nasce a Poesia? Cenopoesia para crianças. De Ednaldo Vieira. Maranguape – Ce. 2008

Ray Lima no ARTES NO IL  Instituto de Linguagens 

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